250 dias...

Tudo estava muito tranquilo...

Quando era solteira morava na casa de minha mãe. Que por sua vez ,morava no quintal de minha avó. Temos quatro casas (a nossa, a da minha avó e de mais duas tias)no mesmo terreno e quem mora em família provavelmente sabe que nem sempre é um mar de rosas. De vez enquando acontecia um arranca rabo familiar. Creio que seja normal, ninguém nunca saiu ferido.

Como mamãe ficou doente no ano passado, tivemos um longo período de trégua, ninguém lembrava de brigar com tanta coisa acontecendo, quimioterapia, preparativos para casamento, internações...

Bem ontem retomamos a rotina familiar. Como estamos nos dividindo entre o apartamento e a casa, fico tomando conta dos dois, tentando limpar, administrar, abastecer...

As três outras casas do quintal estão em obras e a minha entrará logo em breve, mas ontem discuti com minha tia que mora nos fundos da minha casa por conta de umas paredes que são em comum com minha área.

Minha irmã perguntou se o pedreiro iria fazer a parede que dá para a porta da minha cozinha amanhã, já que poeira ,obra e operação na vista não combinam. Minha tia disse que se o pedreiro não fizesse amanhã ela se prejudicaria, que não estavamos querendo que ela fizesse a obra dela e delirou...

Argumentei que eu teria que retirar minhas coisas que estão na área, já que ninguém me pediu autorização para mecher nas minhas coisas sabe, mas ela não tem como argumentar e partiu logo para um delírio paranóico retardado dizendo que "por isso que quando ela sonha com minha mãe ela está mal e decepcionada comigo e com minha irmã!!!!!!"

Quase saí de mim. Não quero fazer comentários sobre os filhos que ela criou, afinal são meus primos e eu os quero muito bem, tenho todos como irmãos.

Mas minha mãe me criou uma mulher forte que decide o que quer da vida. Estudei e sempre fui melhor aluna como de vontade da minha mãe. Passei em quatro universidades diferentes e me formei oradora de minha turma. Fiz pós-graduação pagando minhas contas e trabalhando desde os 17 anos com carteira assinada.Entrei para um emprego público e tive a glória de trabalhar ao lado da pessoa que mais admirei e respeitei em toda minha vida, minha mãe, professora e diretora da escola que escolhi. Casei na igreja, de véu e grinalda e lutei cada dia da doença dela acreditando em um milagre, paguei uma quimioterapia que o médico dizia nada adiantar e um plano de saúde para que minha mãe tivesse todo o conforto do mundo. Nunca desrespeitei ou xinguei ou ofendi minha mãe, ela sempre soube se fazer respeitar. Era uma mulher maravilhosa, inteligente e invejada por seu sucesso, inteligência e pelas filhas bem criadas que ela pôs no mundo.

A história de minha irmã não tem nada de diferente da minha, portanto ao colocar minha mãe que está morta há seis meses numa discussão medíocre dizendo que ela está triste comigo, só tenho que dizer que nem que Jesus descesse na terra para me dizer que minha mãe se decepcionou comigo em vida ou depois de morta eu acreditaria.

Quando sonho com ela, ela está na luz, ao meu lado como um anjo.

Nenhuma profecia de igrejinha da esquina de quinta categoria vai me dizer ou abalar do contrário.

O amor que eu tenho por minha mãe e que tenho por minha irmã sempre foi exemplificado por uma frase que usávamos: Por elas ,eu mato ou morro.

Continua sendo dessa forma. Estando ao meu lado ou em outro plano muito melhor que esse eu digo e repito: POR MINHA MÃE E POR MINHA IRMÃ EU MATO OU MORRO.